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sábado, 15 de janeiro de 2011

Afinal, os gestores pesam!

Durante muito tempo, entendi que os salários elevados pagos aos gestores de topo das empresas e do Estado eram uma “falsa questão”, não em relação às desigualdades sociais nem à questão moral envolvida, mas como problema económico de apropriação do rendimento disponível. Era certamente uma noção que provinha das grandezas estatísticas objectivamente consideradas, mas também um pouco uma reacção ao “moralismo” contido em certas críticas contra “os ricos” pois, para mim, são “suspeitos de riqueza” todos aqueles que auferem rendimentos acima da média mundial (que serão todos os portugueses, ou quase).
Note-se que tais juízos, supostamente morais, se aparentam aos dos que, nos tempos actuais, bramam contra os “especuladores” financeiros, quando é sabido que – havendo embora especuladores (Soros e muitos outros) e especulação bolsista, monetária e financeira, como há fundiária e comercial – a maior parte dos movimentos de capitais nos mercados internacionais são o resultado de lógicas racionais de ganho a que nenhum investidor (grande ou pequeno) fica alheio; são, essencialmente, o resultado adicionado de decisões tomadas por bancos, companhias de seguros, empresas multinacionais, estados e outras entidades detentoras de grandes activos financeiros, a que acessoriamente se juntam, de facto, os “lavadores de dinheiro sujo” e outros traficantes e especuladores encartados. A lógica é a mesma que preside aos depósitos do pequeno aforrador: põem o dinheiro onde lhes parece que vai render mais.
Porém, hoje acho que devo reconhecer uma parte de erro naquela minha opinião inicial. Toda a informação, comentários e opiniões que têm circulado nos últimos dois anos fizeram-me pensar que, mesmo no plano estritamente económico, os “salários” dos altos quadros e administradores de empresas de média e grande dimensão – tal como as chefias e administrações dos serviços públicos – acabam por constituir já uma categoria quantitativamente relevante que pode ser destacada e confrontada com as remunerações dos restantantes “recursos humanos”. Com duas características adicionais: por um lado, esta gente constituirá uma “classe dirigente” que, além de muito bem paga, toma as principais decisões económicas e políticas no mundo de hoje, e como tal deveria ser responsabilizada (o que não acontece, por falta de visibilidade e consistência conceptual); por outro lado, como “classe dominante”, tende a fechar-se e a reproduzir-se, em benefício próprio, como se vê pelo conúbio público-privado, pela sua “internacionalização” e pelos “percursos de excelência” que possibilitam aos seus filhos, o que justificaria, pelo menos, um tratamento fiscal claramente diferenciado (e mais pesado, claro) daquelas pessoas comuns que pagam IRS pela sua actividade de trabalho.
JF / 15.Jan.2011

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